Interlúdio é parte do projeto “Cartografias Afetivas” que segue em metamorfose, e, se iniciou durante o período de Quarentena e das restrições sanitárias que ainda se arrastam lentamente.
Inspirada por um texto escrito em 1794 de Xavier De Maistre (1763-1852), Viagem ao Redor do meu Quarto.
Estava no começo deste período que vivemos até hoje, iniciando em março de 2020 e como De Maistre, me envolvi e mergulhei em viagens e detalhes do material que tinha a mão, “Diapositivos antigos” de registros de viagens, deslocamentos pelo mundo e paisagens vernaculares abandonadas em depósitos de lixo e feiras de antiguidades, registros e memorias já esquecidas e agora resgatadas para que eu possa empreender meu deslocamento, mesmo que imaginativo e mais do que nunca, desejável.
“...nenhum obstáculo poderá nos deter; e, entregando-nos alegremente à nossa imaginação, nós a seguiremos seja lá aonde ela nos queira levar.”
Nesta profusão de imagens que envolvem este trabalho que é um questionamento de um fluxo de acontecimentos, destinados a pensar no futuro da vida e da pós-vida destas imagens.
Interlúdio é no sentido figurado como um lapso de tempo que interrompe alguma coisa; intervalo, interregno. Como em um livro que abre suas páginas ao leitor, lentamente. São camadas de tempo em permanente deslocamento e transformação, constante reinvenção das narrativas criadas pelas prelações entre as imagens.
As fusões me interessam como uma profusão de pensamentos, memorias, lembranças, tencionando o tempo na sensação lenta e arrastada, com um silêncio, o silêncio do entre atos o intervalo de espera.
Este projeto tem também o desejo de ser uma publicação com vários pequenos volumes que podem ser vistos em qualquer ordem, uma instalação imersiva e neste caso específico, é uma publicação online, é uma forma de mostrar essa mesclas de fotografias e vídeos composta de imagens que sonham imagens no seu interior.
Cartografia Afetivas é a exploração de um arquivo de imagens transformado por meio de fotomontagens analógicas e digitais, capturas da tela, reproduções, edição e adição. A diversidade de tópicos e conceitos em cada livro será destacada pelo uso de diferentes papéis, que fazem deste objeto também uma escultura composta de multicamadas.
Gostaria de demonstrar nele a desenvoltura, a aventura, a infinidade de possibilidades da fotografia e suas combinações, que somadas a memória pessoal do leitor podem criar relações interpessoais, um percurso com diferentes formas de olhar para o nosso mundo de olhar para essas recordações que não são minhas, mas que de alguma forma ...agora também me pertencem.
Elaine Pessoa
Interlúdio
Elaine Pessoa
(São Paulo,1968)
Artista Visual representada pela Galeria Mario Cohen, vive e trabalha em São Paulo. Pós-Graduada em Fotografia pela Faap/SP. Sua produção mais recente é dedicada a pesquisa de um hibridismo entre linguagens visuais aplicado ao imaginário da paisagem. Fotolivros publicados Tempo Arenoso (Prêmio Miolo como melhor publicação de fotografia de 2015), Nimbus(2016), Paysages (2017); 100 # fim(2019); Los Cerros(2020).