top of page
Ju Arruda
Palimpsesto

 

 

Palimpsesto investiga as camadas por trás de uma imagem. O trabalho explora o corpo da imagem a partir de uma pequena parte de uma fotografia adotada do arquivo ACHO. Os vestígios e marcas depositados na pele da imagem são extraídos e, concomitantemente, são produzidos novos vestígios e marcas. 

Fotografias são, de certo modo, lugares de restituição de corpos desaparecidos, quer dos corpos que ocupam lugar nas imagens, quer dos corpos advindos das memórias - próximas ou ancestrais - suscitadas por elas. Imagens são corpos vivos e orgânicos, que se metamorfoseiam e se movem entre latências de tempos.

Mas do que é capaz uma única imagem? Quantas camadas e peles têm sob uma imagem? Quantas memórias podem ser encontradas no corpo de uma imagem? Quantas presenças, histórias, palavras e fabulações uma imagem é capaz de trazer? Quantas metamorfoses uma única imagem é capaz de fazer? Onde nasce uma imagem?

“Me deparei com aquela pequena foto antiga e desbotada. Nela, uma garota, provavelmente de mãos dadas com um homem, um cão e os dizeres “Morro Alto”. Sou capturada pela garota. O restante, me parece desnecessário. Uma menina de tenra idade, franja e sapato de boneca. Algo nela me incomoda, não sei o que. Estou enclausurada naquela parte da imagem, na garota. Sua face, sem nitidez. Seu rosto, sombreado. Uma garota e seus olhos ausentes. Quero devolver a imagem ao tempo, porém é tarde demais. Percebo que ela se sente tão desconfortável quanto eu, também não consegue partir. Estamos entrelaçadas. Seus olhos fixos aos meus. Sua pele costurada à minha. Seu silêncio amalgamado ao meu. Sua memória contaminada à minha. Uma desconhecida, de outro tempo, que não sei quem foi. Percorro seu corpo e descasco suas peles. Aquela garota se parece assustadoramente comigo. O mesmo olhar. Os mesmos sapatos. O mesmo corte de cabelo. O mesmo silêncio. Me perco no seu corpo imagem. Já nem sei mais se sou ela ou eu. O escritor Valter Hugo Mãe, no livro “Contra Mim”, diz que “a vida é feita de ressuscitar constantemente”. Aceito, então, que ressuscito na garota. Ressuscito a infância. Ressuscito memórias. Ressuscito ausências, silêncios e sonhos”.

Juliana Arruda 

 

Vive e trabalha em São Paulo/SP. Artista visual, que faz uso da fotografia como linguagem principal, especialmente em seu campo expandido. A sua produção artística se vale de práticas experimentais como forma de criar resistência e ressignificar o olhar amansado pela fragmentação do tempo. Em seus trabalhos, aposta na latência do silêncio e no encontro entre a imagem e a palavra para produzir vídeos, objetos, fotografias, poemas visuais, entre outras peças artísticas. Interessa-se pela criação de obras poéticas em que o áspero, o avesso, o tempo e suas rugosidades, são potentes explorações sobre o próprio corpo das imagens. Estudou Fotografia na Panamericana Escola de Arte e Design. Pós-graduada lato senso em Arte-Educação pelo SENAC/SP e Mestranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Também formada em Direito pela PUC-SP.

bottom of page