
No período de isolamento social que marcou o início dos anos 2020, descobri imagens órfãs, que resgatei do lixo. A seleção natural, segundo Charles Darwin, ocorre todos os dias, em um trabalho silencioso e imperceptível. O cientista põe, lado a lado, biologia e etimologia: algumas estruturas no corpo de animais se tornam inúteis. Assim também alguns sinais na grafia de palavras, que vão mudando, mas deixam indícios de suas histórias. As imagens órfãs, ou restos de imagens, imagino, são como fósseis que guardam lascas de tempos, restos. As frágeis marcas dessas imagens carregam sua ascendência e suas transformações.
Daí se origina esse Sognarium. Um mergulho em imagens que trazem vestígios do passado, que escaparam da mesa de luz para se conectarem à jabuticabeira, que se torna árvore genealógica. Penduradas, sua existência frágil se altera com a mudança das luzes, o barulho das aves, insetos, e seres mitológicos. O Sognarium busca registrar esse tempo que passa, se arrasta ou se dilata, e oferece lugares para se morar e sonhar.
Helô Mello
Sognarium

Hellô Mello
Artista visual, é formada em Comunicação Social na FAAP e MBA com ênfase em Marketing na FIA, Fundação Instituto de Administração.
Dedica-se à fotografia contemporânea, especialmente à temática do tempo e memória, retomando arquivos anônimos e familiares e paisagens inventadas, temas voltados ao meio ambiente, conflitos e minorias.
Desenvolve pesquisa experimental na área da fotografia destacando intervenções sejam elas na captura das imagens (negativo de vidro, filmes vencidos, entre outras), manipulações digitais como também no suporte (lixa, colagem, tinta, etc).
Realizou a exposição individual “Horizonte Suspenso” na Galeria Zipper, entre outras. No livro “Imagens – Ocasiões” de George Didi-Huberman, editora Fotô estão publicadas duas imagens de suas series.
Se dedica a estudos artísticos e residências criativas nacionais e internacionais.