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Enquanto eu pensava nos arquivos órfãos, achei um caroço de abacate no almoço de domingo. Pensei: vai para o lixo ou vai para terra? Decidi que iria para a terra, lugar vivo de fungos, bactérias e coloquei o nome de Córebro (coração+cérebro).  E ele passou a ser o protagonista, meu dispositivo que guarda todo o invisível do mundo e eu precisava perfurar esse invisível. Então, resolvi implantá-lo em muitas das fotografias, nos corpos de minhas personagens mulheres, uma comunhão de mulheres.

 

Fotografei ele pequeno, maior e maior, e não parei de pensar no invisível das coisas do mundo. Os micro-organismos da terra em conexão com os micro-organismos das fotos dos arquivos.

O córebro que vai pra terra, que vira alimento, que o homem come, e que tem micro-organismos que também tem nas fotos. 

As fotografias tem várias procedências: as fotografias órfãs do acervo ACHO, fotografias do acervo de meu avô Elias e fotos feitas por mim, criando um bioma de fotografias, (uma cultura, como as bactérias)  que sobreviveram ao tempo e que ainda irão circular junto com seus fungos e bactérias, junto às coisas do mundo. 

Valéria Mendonça
Córebro

Valéria Mendonça

 

É artista visual, fotógrafa e jornalista. Vive e trabalha em São Paulo. Trabalhou 15 anos na revista Bravo!, 7 anos na editora D’Avila como pesquisadora iconográfica internacional e  9 anos como editora de fotografia e diretora de mini docs para o site  da revista na editora Abril.

Depois de achar o acervo fotográfico do avô já falecido, inventou um jeito de ‘trabalharem juntos’. Uma vez com ele em mãos, acabou transformando esse acervo em ferramenta para suas ilustrações, descobrindo assim que imagens de arquivos são vivas e ótimas para se contar histórias.

Seguindo essa linha, produziu ilustrações para a revista Casa Vogue, vinhetas para tv cultura e para o canal Arte 1 e capa de livro.

Trabalha como freelancer  e ministra a oficina chamada “Desvendando arquivos com a colagem”.

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